Para cinéfilos não há prazer maior
que assistir a um bom filme na tela grande. O cinema traz a nostalgia das grandes
salas de antigamente como o Gloria/Glorinha e o Independência, respectivamente templo
religioso e Camelódromo, atualmente o destino de todo cinema de rua. É ótimo
estar na companhia de pessoas tão diferentes mas que partilhar da mesma paixão.
Rimos, choramos, nos chocamos, fugimos momentaneamente dos problemas e ouvimos
o que ninguém teve coragem de nos dizer, uma lição de vida. Muitas vezes estes
momentos e suas surpresas são perdidos ou tem sua carga emocional reduzida,
seja pelas revelações inúteis das redes sociais ou sobrecarga de publicidade
dos filmes de grande orçamento na busca incessante por audiência.
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Quadrinho da HQ Avengers#1 |
Este ano fui
com minha esposa Eliana e amigos presenciar, pelo menos pra mim, o grande
evento Vingadores 2: A era de Ultron (2015).
Mais um episódio da saga do universo criado pela Marvel, recentemente adquirida
pela Disney que pelo contrato trata da divulgação deixando a produção a cargo
do supremo Kevin Feije. Tal emoção
comparada ou superada, na década de 90, pela compra do gibi Avengers#1 na banca de revistas usadas,
onde com pouco dinheiro poderia ter todos os heróis em uma mesma historinha.
Nesta edição temos a formação clássica com o fundador Homem Formiga, Vespa,
Thor, Hulk e Homem de Ferro, sem o Capitão América que descongelaria apenas na
edição nº 05. Esta união é propiciada pelo deus da trapaça Loki, que influencia
mentalmente Hulk a destruir a cidade.
Vingadores 2
perde para seu antecessor ao escolher um inimigo fraco e mimado, que nunca foi
um desafio. Possui ótimos momentos, e muitos de ação, com um novo e incrível
personagem, o mais interessante da película, Visão, o merecedor. Meu descontentamento
não é pela trama, mas está na poderosa, mais que os heróis, campanha de
divulgação, que mostrou quase tudo, tirando-nos gratas surpresas, tornando-o previsível.
As redes sociais, principalmente, blogs e sites sensacionalistas nos jogam na
cara desde sets de filmagem, declarações de atores e diretores e fotos
reveladoras com spoiler. Somos bombardeados indiscriminadamente, sem a
necessidade de procurá-los. A população se acostumou a isso, preferem comprar
um ingresso com a “certeza” que valerá a pena, ou seja, melhor saber como
inicia e termina. Comprovado isto pelos tantos reboots de filmes antigos
espetaculares que se transformaram em bombas cinematográficas.
O contrário
aconteceu com outro blockbuster, Matrix
dirigido por Andy e Lana Wachowski (V de
vingança e Sense8), que no final do ano de 2000 junto com Star Wars: Episódio I, esquecível, onde
a internet estava engatinhando e aguardando o bug do milênio. Sua divulgação
foi ínfima e arrasada pelo seu concorrente. Quem foi assisti-lo foi às cegas,
ou por que esgotou o ingresso do concorrente. Ele foi revolucionário tanto
pelos efeitos especiais imitados até hoje como pela extensa discussão
filosófica, referências a obra de Issac Asimov, conceito de liberdade humana, o
rumo da sociedade com a criação da Inteligência Artificial, consumismo e
discriminação. Mundo este que deixou-nos confusos ao primeiro olhar, e até hoje
desperta debates e novas interpretações. Tal impacto pode ser sentido pela
falta de expectativa ou spoilers, contando apenas com um trailer de divulgação.
Acompanhamos a trajetória dos personagens Neo, Trinity e Morpheus e a equipe
dos renegados tripulantes da nave Nabucodonosor e a procura do escolhido na
qual a Oráculo descrevia como o libertador das mentes aprisionadas na Matrix,
ou pelo menos para quem quiser ser salvo daquela ilusão prazerosa.
A indústria
do cinema não quer perder apostando em novos talentos, querem o retorno
garantido, e isto se consegue com muita publicidade. As apostas são seguras em
nomes de destaque, uma sequência de uma franquia já estabelecida, roteiro baseado
em livros campeões de vendas ou games de sucesso, um remake de um filme de grande
bilheteria do passado com o pretexto de atualizar para os novos fãs. Enquanto
isso, nós que perdemos, assistindo a um desfile de enlatados americanos, vide
Poltergeist (2015), Conan – O Bárbaro (2012), Superman – O retorno (2006),
Vingador do Futuro (2012) e tantos outros. Em contra partida nos tornamos cúmplices deste sistema, por preferir uma história já conhecida e mastigada
pela mídia sem o risco de insatisfação. Felizmente, temos exceções como Mad Max
- Estrada da Fúria (2015) dirigido por George Miller, que guardou a sete chaves
uma excelente aventura com uma nostálgica homenagem à franquia original. O
mesmo pode ser dito de Missão Impossível - Nação Secreta (2015) dirigido por
Christopher McQuarrie (Operação Valquíria e Jack Reacher), no qual pelo trailer
achávamos que a cena do avião fosse o ápice do filme, mero engano, era apenas a
cena inicial, que fez todos no cinema pensarem: imagina o que virá agora!
O melhor é
despertarmos dessa preguiça, dessa Matrix intelectual, não sermos acomodados e
aceitar apenas os caça níqueis visuais, escolha a pílula vermelha.
Tiago C. Santos
Informações adicionais:
Trailer do filme Matrix HD
Universo Marvel retrospectiva 2008-2012