domingo, 27 de setembro de 2015

MELHOR ASSISTIR A UM FILME SEM EXPECTATIVA




Para cinéfilos não há prazer maior que assistir a um bom filme na tela grande. O cinema traz a nostalgia das grandes salas de antigamente como o Gloria/Glorinha e o Independência, respectivamente templo religioso e Camelódromo, atualmente o destino de todo cinema de rua. É ótimo estar na companhia de pessoas tão diferentes mas que partilhar da mesma paixão. Rimos, choramos, nos chocamos, fugimos momentaneamente dos problemas e ouvimos o que ninguém teve coragem de nos dizer, uma lição de vida. Muitas vezes estes momentos e suas surpresas são perdidos ou tem sua carga emocional reduzida, seja pelas revelações inúteis das redes sociais ou sobrecarga de publicidade dos filmes de grande orçamento na busca incessante por audiência.

Quadrinho da HQ Avengers#1
             Este ano fui com minha esposa Eliana e amigos presenciar, pelo menos pra mim, o grande evento Vingadores 2: A era de Ultron (2015). Mais um episódio da saga do universo criado pela Marvel, recentemente adquirida pela Disney que pelo contrato trata da divulgação deixando a produção a cargo do supremo Kevin Feije. Tal emoção comparada ou superada, na década de 90, pela compra do gibi Avengers#1 na banca de revistas usadas, onde com pouco dinheiro poderia ter todos os heróis em uma mesma historinha. Nesta edição temos a formação clássica com o fundador Homem Formiga, Vespa, Thor, Hulk e Homem de Ferro, sem o Capitão América que descongelaria apenas na edição nº 05. Esta união é propiciada pelo deus da trapaça Loki, que influencia mentalmente Hulk a destruir a cidade.

            Vingadores 2 perde para seu antecessor ao escolher um inimigo fraco e mimado, que nunca foi um desafio. Possui ótimos momentos, e muitos de ação, com um novo e incrível personagem, o mais interessante da película, Visão, o merecedor. Meu descontentamento não é pela trama, mas está na poderosa, mais que os heróis, campanha de divulgação, que mostrou quase tudo, tirando-nos gratas surpresas, tornando-o previsível. As redes sociais, principalmente, blogs e sites sensacionalistas nos jogam na cara desde sets de filmagem, declarações de atores e diretores e fotos reveladoras com spoiler. Somos bombardeados indiscriminadamente, sem a necessidade de procurá-los. A população se acostumou a isso, preferem comprar um ingresso com a “certeza” que valerá a pena, ou seja, melhor saber como inicia e termina. Comprovado isto pelos tantos reboots de filmes antigos espetaculares que se transformaram em bombas cinematográficas.

            O contrário aconteceu com outro blockbuster, Matrix dirigido por Andy e Lana Wachowski (V de vingança e Sense8), que no final do ano de 2000 junto com Star Wars: Episódio I, esquecível, onde a internet estava engatinhando e aguardando o bug do milênio. Sua divulgação foi ínfima e arrasada pelo seu concorrente. Quem foi assisti-lo foi às cegas, ou por que esgotou o ingresso do concorrente. Ele foi revolucionário tanto pelos efeitos especiais imitados até hoje como pela extensa discussão filosófica, referências a obra de Issac Asimov, conceito de liberdade humana, o rumo da sociedade com a criação da Inteligência Artificial, consumismo e discriminação. Mundo este que deixou-nos confusos ao primeiro olhar, e até hoje desperta debates e novas interpretações. Tal impacto pode ser sentido pela falta de expectativa ou spoilers, contando apenas com um trailer de divulgação. Acompanhamos a trajetória dos personagens Neo, Trinity e Morpheus e a equipe dos renegados tripulantes da nave Nabucodonosor e a procura do escolhido na qual a Oráculo descrevia como o libertador das mentes aprisionadas na Matrix, ou pelo menos para quem quiser ser salvo daquela ilusão prazerosa.

            A indústria do cinema não quer perder apostando em novos talentos, querem o retorno garantido, e isto se consegue com muita publicidade. As apostas são seguras em nomes de destaque, uma sequência de uma franquia já estabelecida, roteiro baseado em livros campeões de vendas ou games de sucesso, um remake de um filme de grande bilheteria do passado com o pretexto de atualizar para os novos fãs. Enquanto isso, nós que perdemos, assistindo a um desfile de enlatados americanos, vide Poltergeist (2015), Conan – O Bárbaro (2012), Superman – O retorno (2006), Vingador do Futuro (2012) e tantos outros. Em contra partida nos tornamos cúmplices deste sistema, por preferir uma história já conhecida e mastigada pela mídia sem o risco de insatisfação. Felizmente, temos exceções como Mad Max - Estrada da Fúria (2015) dirigido por George Miller, que guardou a sete chaves uma excelente aventura com uma nostálgica homenagem à franquia original. O mesmo pode ser dito de Missão Impossível - Nação Secreta (2015) dirigido por Christopher McQuarrie (Operação Valquíria e Jack Reacher), no qual pelo trailer achávamos que a cena do avião fosse o ápice do filme, mero engano, era apenas a cena inicial, que fez todos no cinema pensarem: imagina o que virá agora!

            O melhor é despertarmos dessa preguiça, dessa Matrix intelectual, não sermos acomodados e aceitar apenas os caça níqueis visuais, escolha a pílula vermelha. 



Tiago C. Santos

Informações adicionais:


Capas HQs Avengers#1 e 5

Galera do Vingadores - Era de ultron

Trailer do filme Matrix HD
 
Universo Marvel retrospectiva 2008-2012

domingo, 20 de setembro de 2015

Memórias de Infância



Essa semana comemorei mais um aniversário. Um desses momentos que refletimos e vemos que estamos ficando velhos. Como seria bom nos transportarmos para nossa infância, a melhor fase de minha vida. Lembro que eu passava o dia brincando com minhas bonecas e olhando desenhos no programa Balão Mágico. Com os anos as brincadeiras foram mudando passei a jogar bola com os amigos na rua em frente de casa, pulando sapata e pulando corda. A minha arte favorita era subir no pé de goiabeira no pátio da minha amiga Angelita. Ficava lá sentada, olhando o horizonte por horas e criando mil histórias em minha cabeça. Na hora do almoço, a mãe chamava-me, via onde eu estava e ficava apavorada chamando meu pai. Dizia para ele: aquela guria vai cair da árvore e machucar-se. Meu pai me olhava e mandava eu descer da árvore se não ia me buscar. Fiz algumas travessuras como fugir para rua Silva Jardim e descer de carrinho de rolimã. Achei uma super aventura. Na mesma rua desci de bicicleta em alta velocidade o coração parecia que saltaria pela boca. Na volta, subindo a rua com meu amigo Nilo, companheiro de muitas aventuras radicais, eis que meu pai me esperava na esquina de casa. Seu rosto transparecia estar furioso comigo. Olho-me e disse: entrega me tua bicicleta. Fiquei sem andar nela por um mês, foi o pior castigo para uma criança. Claro que não parei de fazer travessuras no resto da minha infância. Guardo com muito carinho essas doces lembranças de anos que não voltam mais. Mas a certeza que tudo que foi vivido valeu muito apena. 

Eliana Vilanova Santos

Filme que mostra o valor de uma amizade de infância



 Trilha sonora cantada por Ben King


 

A MELHOR AVENTURA NAS ESTRELAS



Você prefere o bife bem ou mal passado? Juntos os integrantes dos Beatles eram imbatíveis, mas separados, Lennon ou McCartney? Um animal de estimação é o melhor amigo nas piores horas, mas, o cão ou o gato? Nossa sociedade se regra pela preferência em todos os aspectos, com poucas exceções, somos direcionados a ter uma posição, seja pelo tipo de música desverbalizada ou monofrasal do momento ou o saudosismo do rock dos anos 80. E dentro desta devemos fazer uma escolha dentro de outra escolha, como a melhor banda da época preferida e desta o componente mais talentoso, o mais estiloso e por aí vai. Isto cria um direcionamento, muitas vezes influenciado pela mídia, que nos distancia de um universo de possibilidades, sensações e aprendizado. Por que não dizer na roda de amigos que não possuímos preferência por um prato de comida específico, e sim eu prefiro uma comida bem feita, de qualquer lugar do mundo, que ao saboreá-la eu sinta o humor do cozinheiro que a fez e o frescor dos ingredientes recém colhidos. Então, por que comparar os mundos criados em Star Wars e Star Trek, cuja similaridade se situa apenas no devotamento dos fãs.

Star Trek é uma ficção científica, similar a Blade Runner e Alien: O oitavo passageiro, que surgiu inicialmente como seriado em 08 de setembro de 1966 nos Estados Unidos com o nome de Star Trek: The Original Series que durou inicialmente três temporadas, sendo seguida de várias outras franquias contabilizando mais de 700 episódios, sendo posteriormente transformado em filme em 1979 com o nome de Jornada nas Estrelas: O Filme e mais onze sequências, sendo o segundo e terceiro filmes Jornada nas Estrelas II: A Ira de Kahn (1982) e III: À Procura de Spock (1984) se destacando. Foi um seriado visionário de exploração espacial por novas vidas no universo, mostrou a amizade dual entre Spock, razão, e Kirk, sentimento. Mostrou o primeiro beijo inter-racial na TV e o entrosamento, em um ambiente claustrofóbico, de várias civilizações terrestres e espaciais, cada um com um papel muito importante no coração do que, a meu ver, é o organismo vivo do filme: Enterprise. Ao longo dos anos a tripulação foi mudando, mas mantendo sempre sua dinâmica e aspirações originais de romper as fronteiras do tempo e espaço. Suas mídias, em sua maioria, foram de baixo orçamento, o que, hoje em dia, torna cansativo revê-los, mas não menos emocionante. A série foi produzida exaustivamente, tendo períodos aqui no Brasil com mais de duas temporadas ao mesmo tempo, cada uma com sua linha temporal, tornando praticamente inviável acompanhá-las. Nesta confusão e saturação a audiência reduziu, inviabilizando novos projetos. Até que J. J. Abrams (Cloverfield, Missão Impossível III e IV) assumiu a tarefa de revitalizar os filmes preferindo seguir com uma nova linha temporal, não destroçando o original com um reboot. Presenteando-nos com um show visual e história envolvente, onde notamos todo o cuidado e assinatura de um diretor apaixonado.

Tripulação original da Enterprise

Já Star Wars foi concebido como uma trilogia de cunho fantástico lançada em 25 de maio de 1977, na qual George Lucas afirma ter preconcebida a nova trilogia, mas que na época não poderia tirá-la do papel devido a necessidade de altos investimentos e falta de tecnologia. Em minha infância, tornou-se mais digerível para uma criança de 7 anos, com seus personagens heroicos injustiçados e vilões elevando sua maldade ao sadismo. Esses filmes foram transformados em religião, angariando novos adeptos graças a um forte apelo de marketing. Na história acompanhamos o caminho do herói Luke Skywalker, saindo de sua vida pacata em Tatooine, abrindo os olhos para uma guerra iminente, passando por treinamentos, apuros e descobertas surpreendentes, fazendo-o acreditar em sua força interior até eclodir em um Cavaleiro Jedi, mas não o escolhido da profecia, sendo esta atribuído ao anti-herói Darth Vader. O conceito de força antigamente era algo descrito como espiritual, onde o herói deveria abandonar seus medos interiores para chegar ao esclarecimento. Fato este totalmente desconsiderado na nova trilogia, a qual atribui o conceito Jedi a um mero fator genético. Esta preferiu dar ênfase no conceito visual, mas com mérito à descoberta da origem de Anakin, trazendo personagens desinteressantes e não tão carismáticos. Nada supera a relação de amizade e conceito de família dos protagonistas Luke, Leia, Han e Chewbacca e não menos importantes as cenas cômicas dos androides R2-D2 e C-3PO. Aliás qualquer pessoa que sequer tenha assistido a um filme lembra destes nomes ou mesmo a inconfundível respiração robótica de Vader, mas não se lembra dos novos nomes surgidos atualmente. Recentemente, George Lucas vendeu a produtora Lucasfilm Ltd. e os direitos da franquia para a Disney, o que esperar: dezenas de filmes, talvez até uma quadrilogia do Jar Jar Binks, e milhares de artigos colecionáveis, uma verdadeira invasão do lado negro da força.

Personagens da trilogia clássica

  
É certo que no momento quanto mais filmes destas franquias são feitos mais o mundo de Star Trek se expande, enquanto Star Wars fica menos interessante. Diante destas características, vemos o quão diferentes estes filmes são. A melhor aventura nas estrelas depende da idade em que a mídia foi vista para se ter ou não a total compreensão do enredo, referências e dualidades, desse modo aproveitamos ao máximo cada experiência, deixando de lado as discussões acaloradas que rondam as estreias. Depende do que buscamos naquele momento, apenas um divertimento com apelo visual, ou uma temática mais rica em detalhes que nos instigue nossa imaginação.  Hoje em dia os filmes de Star Trek conseguiram se comparar em tecnologia e investimento a Star Wars, sendo para nós um glorioso deleite, não a questão de um sobrepujar o outro, mas para os apaixonados por cinema, como eu, que apenas quer sentar em uma cadeira de cinema e ser surpreendido por um filme feito com cuidado e com a assinatura de um diretor visionário e comprometido com a película, nos entregando um material interessante para fugir do cotidiano.

Aguardo Star Wars VII em dezembro e já sonho com Star Trek em um futuro não muito distante.

Tiago C. Santos

Evento da "Legião do Bem" na Athena Livraria em SM/RS para arrecadar brinquedos


Informações adicionais:

Podcasts interessantes sobre as sagas do melhor site sobre cinema: Cinema com Rapadura